terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Runas

Começar a usar o blog tb pra alguns insights sobre raízes passadas e coisas futuras. É sempre chocante enxergar alguns padrões muito permanentes em grupos humanos em geral, como eles são tão "primitivos" quanto coisas bem antigas (sem críticas), e como talvez seja diferente um dia.

Uma desas coisas é o nosso padrão escrito, o romano, que é essencialmente como o padrão rúnico: conjuntos de traços retos e simples que representam sons específicos, configurações específicas da boca. Uma sequencia de runas representa uma sequencia de sons que deve ser reproduzida rapidamente para carregar significados para as nossas vidas mentais e pra induzir ações no mundo material.

(Quem diria que algum animal ia desenvolver essa técnica muscular avançada de articular e rearticular rapidamente a saída do sistema respiratório pra produzir um padrão bem complexo de sons que carrega um monte de significado. É sempre a primeira coisa q eu penso quando ouço uma conversa em uma língua desconhecida.)

Mas voltando, o nosso padrão escrito ainda é esse! O mesmo, não mudou nada! É verdade que existem infinitas versões estilizadas dessas runas (as diferentes tipografias) pra combinar com coisas diferente e ficar bonitinho, mas isso é só as runas enquanto arte decorativa. Aliás, eu nem chamo isso de linguagem escrita - porque não passa da reprodução escrita do que é a nossa lingua oral. O ocidente só tem língua oral! Mesmo as expressões poéticas são todas assim: poesia é algo para ser declamado - e os concretistas foram os primeiros a fazer algum avanço no sentido oposto. Os chineses sim, eles têm uma linguagem escrita de verdade, com símbolos escritos que carregam idéias, que podem estar associados a diversas linguas orais - ou mesmo a nenhuma.

Mas enfim, será q vamos abandonar esse padrão rúnico de escrita e de comunicação? A partir das ultimas duas décadas, parece cada vez mais claro que os filmes e outras multimídias vieram com grande potencial para competir com os livros como forma de guardar a nossa sabedoria mais erudita (ou como diz a minha mae adotiva das humanidades, os historiadores das novas gerações precisam saber fazer cinema).

No futuro a comunicação não-oral vai ser feita através de bolhas brilhantes e coloridas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bem, acho que há uma confusão aqui.
Nenhuma língua (pelo menos ocidental) se propõe a ter uma LÍNGUA escrita; já a linguagem escrita, é a representação gráfica das línguas. Apenas uma representação e não vejo um motivo para ser algo mais que isso.

A propósito, acho que você tá propondo é uma regreção. Eu lembro de uma época em que as pessoas se comunicavam através de símbolos gráficos abstratos em que as palavras não eram objetivos nem meios: ELAS USAVAM DESENHOS e nós morávamos em cavernas.

E, a propósito, filmes ainda têm scripts e eles são escritos com palavras mesmo...

zipi disse...

Bem, de fato é muito pouco provável que o homem se comunicasse por imagens em seus tempos cavernosos.

Os animais desde sempre se comunicaram por sons e expresões corporais. O homem principalmente.
Antes de ter uma língua falada regrada e com significados para cada som ele se comunicava com balbucios em diferentes entonações e com linguagem corporal e linguagem mímico-gestual, que aliás ainda é fundamental para a nosa comunicação por mais que as pessoas esqueçam dela.

As pinturas rupestres muito provavelmente tinham outras proposições, como rituais místicos.

O mais perto que o homem já teve de linguagem atráves de desenhos foi com a arte gráfica, e ela nunca veio como substituta de nenhuma outra linguagem, mas sim como complementação.

E as línguas ideogramáticas são muito bem desenvolvidas. Os símbolos não são completamente abstratos, mas sim abstrações de imagens pictóricas (que de certa forma também é a origem das nossas letras latinas) e eles conseguiram ir além da mera representção do mundo físico, eles têm ideogramas para idéias completamente abstratas como sentimentos (e não são emoticons u.u).