quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Modelos Urbanos

Uma reflexão antiga mas que, como refluiu hoje na minha cabeça, resolvi escrever.

É engraçado que Rio de Janeiro e São Paulo têm padrões de urbanização bem distintos - especialmente no que diz respeito à relação com o relevo.

O Rio de Janeiro tem duas inclinações possíveis: plano, onde vivem todas as pessoas de bem (e muitas do mal também) e muito inclinado, onde tem floresta e/ou favela. A distinção entre Cidade e Favela é auto-evidente para qualquer carioca; olhando de cima, é perfeitamente possivel desenhar uma linha precisa delimitando as áreas das duas coisas.

Já São Paulo é muito mais democrática a esse respeito: todas as inclinações são ocupadas por todo tipo de cidade, indistintamente. O mar de morros é coberto pelo mar da urbe. (Nunca vai deixar de me espantar o fato de, 150 anos atrás, a região da atual Av. Paulista ser uma serra díficil de transpor, atravessada por estradas em seus pontos mais baixos, e que separava a Vila de São Paulo da Vila de Pinheiros).

Em São Paulo, também, bairros ricos, médios e pobres se distribuem como um malhado pela cidade, embora com uma leve mais perceptível curva de declive: os bairros mais ricos, em geral, ficam perto do centro e os bairros mais pobres, em geral, nas extremidades. O Rio, por outro lado, é uma cidade bipolar: há a Zona Sul, em que ficam todas as pessoas que tem dinheiro (e muitas que não tem tanto), todos os bairros bonitos, interessantes, todas as praias, os cartoes postais, cada um dos símbolos pelos quais o Rio de Janeiro é famoso, e há o Resto da Cidade, que concentra 90% da área da cidade, uma porcentagem similar de população, e não tem mais nada. O centro, então, espremido no extremo leste da cidade entre floresta e baía, é a zona de transição entre essas duas regiões.

Mas o mais engraçado disso tudo é que esses dois modelos se replicam! Boa parte das cidades ao longo da costa fluminense segue o modelo carioca!: ocupação plana, privilégio da zona próxima do mar, supervalorização desta e esquecimento de toooodo o resto (tratado então como periferia). Cidades do interior de São Paulo, por outro lado, todas nao se importam em passar por cima das elevações, ter ladeiras, essas coisas; são todas globalmente homogeneas em termos de riqueza (nao homogeneas, na verdade, mas nao bipolares com certeza), centradas eventualmente em uma igreja.

Gostaria de fazer uma comparação tríplice com as cidades mineiras, mas preciso passar mais tempo nelas antes disso.