Seguiu-se a isso uma loooooonga passagem por todos os níveis de caricaturização daquela velha história do Copérnico (desde a mais simples: "Terra no centro, que coisa idiota! Até que veio alguém esperto e pôs o Sol no centro, deu certo, e todos vivemos felizes para centre até hoje com as órbitas circulares em torno do Sol."), e a discussão sobre até onde é lícito usar a Navalha de Ockham para favorecer Ptolomeu ou Copérnico, Copérnico ou Kepler.
Até a confissão final que mudou o curso das coisas: a de que Ele (o meu interlocutor) usava a Navalha especialmente contra as famosas Teorias de Conspiração. E eu querendo encontrar uma outra forma de descartar as teorias conspiracionistas, sem agredir tanto o ponto de vista humanista. O exemplo de conspiracionismo apresentado por ele foi o do Dragão na Garagem. A história pode ser resumida no seguinte diálogo (adaptado do diálogo escrito por Ele):
- Achei um Dragão na minha garagem!
- Sério meu???
- Sério meu!
- Po, vamo lá que eu quero ver esse dragão!
- Po meu, moh mancada sua neh? nem tem dragão aí!
- Claro que tem, só que ele tá invisível!
- Ah, entao a gente joga tinta pro alto... se tiver um dragão parte da tinta vai ficar flutuando no ar aí a gente vai poder ver ele!
- Noa meu... tipo assim, ele é imaterial tambem, saca?
- Hm... a gente pode usar uma camera de infravermelho para ver a radiação emitida por ele então.
- Ah, mas ele não emite radiação porque está na temperatura ambiente...
E assim ad infinitum, com cada medição imaginada tendo uma justificativa para que o dragão não possa ser medido. Até aí nada de errado; a teoria do dragão, encarada deste modo, se ajusta perfeitamente a todos os dados experimentais que podem ser obtidos na garagem. Mas, como Ele disse, "a maioria das pessoas iria concordar que é idiota achar que ele tem 50% de chance de estar lá."
Daí é que veio a luz, e o consenso. As pessoas não acham razoável supor o dragão. Porque o conjunto de valores aprendidos por essas pessoas ao longo de suas vidas, a partir dos pressupostos culturais - que é o que dá munição à nossa capacidade de julgar - rotula o dragão como "não-razoável". Não é porque as explicações são mais "simples" (o que quer que isso signifique) sem o dragão; mas porque o dragão não pertence ao "conjunto de coisas que são razoáveis" - não pertencem ao senso comum.
Que alegria! Um conceito genuinamente humanista, que então aparece como o elemento fundamental no julgamento e na escolha das explicações sobre o mundo. As duas teorias são iguais do ponto de vista empírico; o que as diferencia são os conceitos que, em um dado grupo de pessoas, são ou não são considerad0s "aceitáveis". Poderíamos batizar isso de Navalha do Senso Comum:
Na dúvida de qual explicação escolher, fique com o que ofende menos o seu bom senso.
Fim de jogo.
5 comentários:
Bem plausivel essa sua navalha. Mas não sei, não gostei mto dela em uma primeira olhada, talvez pudesse ser aprimorada, pra permitir que ela não ceife grandes vislumbres que podem revolucionar por completo nossa visão de mundo... hahahahhahaha, sem contar que as vezes todas ofendem seu bom senso o mesmo tanto, o que fazer!!! Sugiro uma alteração para isso seja amenizado:
"Escolha suas explicações aleatoriamente, com as probabilidades ponderadas pelo seu bom senso!"
uhahuahuahuauahahuahua
aprovado!!
até porque, usualmente, eu tendo a preferir bastante as teorias que agridem mais ao senso comum... mas é só preferência estética, e além disso é importante ter em mãos uma ferramenta pra descartar teorias conspiracionistas...
Sei não...
Essa história de que a Navalha de Ockham eh uma furada ofende o meu bom senso.
Vou tomar isso como inverdade.
acho Ockham um nome tão bonitinho que a teoria relacionada a esse nome tão bonitinho deveria ser respeitada...lançarei uma campanha: pela beleza dos nomes! mesmo que as teorias relacionadas a ele não prestem!!
beijos
alê
Postar um comentário