domingo, 2 de dezembro de 2012

Linguagem

Linguagem foi algo inventado para conectar-se com espíritos, isto é, com aquilo que não é alcançavel pelos sentidos. É claro que a linguagem usa os sentidos, não haveria outra maneira; usa-os, contudo, apenas como via. As palavras, ou partículas de uma linguagem, servem como carros que vestem as palavras no frio do mundo exterior (sim, as pessoas se vestem com carros) e as transportam por aí.

Os espíritos, aqui, incluem os computadores. Mas para amenizar o incômodo que essa frase sugere, digo logo que objetos, computadores, seres etc. podem ser ordenados pelo quanto eles resistem à vontade alheia (ou seja, por quão autônomos eles são). A maioria dos computadores pessoais resiste muito pouco, fazendo basicamente o que mandamos (é claro que, com computadores e com pessoas, a falta de domínio da linguagem do outro é, por si, uma resistência enorme). Mas há computadores muito mais autônomos (essa coisa que chamam, em computação, de "redes neurais") e também há cachorros autônomos e seres humanos, sobretudo. Mas seres humanos não são testados tanto pela sua resistência à vontade de outros seres humanos, mas porque não testamos tanto; consideramos que Autonomia é um valor fundamental das relações humanas e, por isso, evitamos forçar a barra. Mas o passado (e as ravinas da sociedade presente) tem algumas histórias tristes sobre isso.

A matéria também tem graus diferentes de resistência à vontade. As ferramentas, como os animais domésticos, são versões significativamente mais irresistentes delas. Mas toda a matéria tem resistência, o que explica o esforço que fazemos contra ela. Em um campo um pouco diferente, aparece sob o mesmo conceito: a "resistência"  que ela oferece, através dos experimentos, à livre teorização nas ciências naturais (Galison). 




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